quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Felicidade


      As pessoas afirmam, comumente, que buscam pela felicidade. Livros de auto-ajuda, mensagens repassadas pela internet, vlogs demonstrando práticas para alcançar a auto-confiança, adquirir práticas saudáveis e buscar a SUA felicidade, não importa o quanto isso custe, parecem ser as ferramentas da "vez" e felicidade é um termo usado sem qualquer cerimônia. Acho lírico e genuinamente emocionante o discurso de muitos, mas não posso afirmar que concordo. Ao revés, considero um verdadeiro contra-senso afirmar que o propósito da vida é ser "feliz" e fazer o que gosta em um mundo em que o caos impera, a fome esperneia e a desigualdade se exaspera. A felicidade não é e não deve ser algo tão egoísta. É preciso fazer o que é preciso. Confesso que todos os dias ao dormir, na escuridão da alcova, o travesseiro transmuda-se em confessionário. E quase sempre o sentimento que prepondera é a melancolia e o arrependimento. Nesse momento, comungo, de algumas opiniões: o que eu fiz durante o dia simplesmente não me preenche e sinto o vazio da alma. Uma alma que na dormida confortável sobre centenas de fios, tão-somente lamenta a sofridão de seus irmãos. Nutro um sentimento ruim, de raiva, mesmo que momentânea por alguns. A revolta, o mau-humor, a tristeza desatada por razões de índole estritamente pessoal. Estas deveriam servir de combustível para o auto-progresso. Contudo, para muitos, é bote para a depressão, a agonia e a aflição movida por assuntos meramente pessoais.
      Sim, amigos e familiares, eu os amo. E igualmente amo aqueles cujo os nomes desconheço, cujas faces nunca vi. Amo-os porque são; porque existem e porque por eles e em razão deles (e de vocês, senhores) eu vivo.A humanidade é una; desconheço o plural de tal verbete. E por que saltitarmos e nos regozijarmos malgrado a parca sobrevivência de outrem? Por que teorias como o liberalismo e suas vertentes, o construtivismo e o neo-neo deixaram espaço, após tantas discussões, para o já malfadado realismo? Estados mostram sua onipotência e se utilizam da força. A política internacional, como a conhecemos, embutida de conceitos de cooperação internacional, organizações extra-estatais, grupos econômicos e união entre Estado, parece existir como forma de permanência de países hegemônicos no poder; a pura demonstração da força que os sobrepõem em uma relação permeada de ameaça semivelada de apelo à guerra quando necessária. 
    Ideias liberais não trarão a felicidade. Livre mercado, globalização, consumismo e cultura de massa tampouco. Assim, a busca da felicidade pelo indivíduo raramente deve alcançar resultados satisfatórios porque é necessário que a felicidade seja buscada pelo conjunto de indivíduos. A teoria da ação coletiva de Olson deve, pois, prevalecer.
      Portanto, amigos, enquanto neste mundo a solidariedade for coadjuvante, todo o sentimento de excitação será passageiro e as lágrimas continuarão a rolar, pois os corpos suplicam por cuidados e nutrição, os corações clamam por amor, mas a consciência imediata tem nas mãos o sangue derramado e o pranto não contido.
       Parafraseio, por fim e por suposta razão, as palavras do legado literário, traduzida na obra clássica de Victor Hugo, Os Miseráveis: "enquanto, por efeito de leis e costumes, houver proscrição social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros infernos, e desvirtuando, por humana fatalidade, um destino por natureza divino; enquanto os três problemas do século - a degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância - não forem resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis"

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Extraordinário

Extraordinário. Um livro para todas as idades, de linguagem extremamente fácil e que, creio, deveria, ser adotado pelas escolas, nos primeiros anos, para estimular as crianças a refletir sobre o bullying.
O livro aborda a história de um menino que nasceu com uma enfermidade que acarreta, por si, uma deformidade em sua aparência física e, por conseguinte, os dramas daí decorrentes.
Algo realmente formidável no livro é a forma com a qual  os personagens são encarados pelos próprios personagens entre si: todos são "carimbados" por uma determinada característica e carregam essa marca durante um bom tempo do histórico escolar: são os "nerds", "geeks", "certinhos", "esportistas",enfim, características externas que não definem o que a pessoa, ou melhor, quem a pessoa realmente é. E por que não considerar que tal postura seja praticada também entre os indivíduos de idade mais madura. Não esporadicamente eu me deparo com situações no trabalho em que sou julgada, em que julgam e em que eu mesma julgo. Mesmo que com animus jocandi, será que às vezes magoamos alguém querido quando o taxamos de "maluquinho", "avoado", "ensaboado", "tagarela"?




Enfim, Extraordinário é aparentemente simples, mas pode ser útil nas relações interpessoais. De leitura fluida, possível de começar e terminar em uma tarde, em um passeio delicioso por suas páginas recheadas de sentimentos puros de ex-crianças recém-chegadas à pré-adolescência.