As pessoas afirmam, comumente, que buscam pela felicidade. Livros de auto-ajuda, mensagens repassadas pela internet, vlogs demonstrando práticas para alcançar a auto-confiança, adquirir práticas saudáveis e buscar a SUA felicidade, não importa o quanto isso custe, parecem ser as ferramentas da "vez" e felicidade é um termo usado sem qualquer cerimônia. Acho lírico e genuinamente emocionante o discurso de muitos, mas não posso afirmar que concordo. Ao revés, considero um verdadeiro contra-senso afirmar que o propósito da vida é ser "feliz" e fazer o que gosta em um mundo em que o caos impera, a fome esperneia e a desigualdade se exaspera. A felicidade não é e não deve ser algo tão egoísta. É preciso fazer o que é preciso. Confesso que todos os dias ao dormir, na escuridão da alcova, o travesseiro transmuda-se em confessionário. E quase sempre o sentimento que prepondera é a melancolia e o arrependimento. Nesse momento, comungo, de algumas opiniões: o que eu fiz durante o dia simplesmente não me preenche e sinto o vazio da alma. Uma alma que na dormida confortável sobre centenas de fios, tão-somente lamenta a sofridão de seus irmãos. Nutro um sentimento ruim, de raiva, mesmo que momentânea por alguns. A revolta, o mau-humor, a tristeza desatada por razões de índole estritamente pessoal. Estas deveriam servir de combustível para o auto-progresso. Contudo, para muitos, é bote para a depressão, a agonia e a aflição movida por assuntos meramente pessoais.
Sim, amigos e familiares, eu os amo. E igualmente amo aqueles cujo os nomes desconheço, cujas faces nunca vi. Amo-os porque são; porque existem e porque por eles e em razão deles (e de vocês, senhores) eu vivo.A humanidade é una; desconheço o plural de tal verbete. E por que saltitarmos e nos regozijarmos malgrado a parca sobrevivência de outrem? Por que teorias como o liberalismo e suas vertentes, o construtivismo e o neo-neo deixaram espaço, após tantas discussões, para o já malfadado realismo? Estados mostram sua onipotência e se utilizam da força. A política internacional, como a conhecemos, embutida de conceitos de cooperação internacional, organizações extra-estatais, grupos econômicos e união entre Estado, parece existir como forma de permanência de países hegemônicos no poder; a pura demonstração da força que os sobrepõem em uma relação permeada de ameaça semivelada de apelo à guerra quando necessária.
Ideias liberais não trarão a felicidade. Livre mercado, globalização, consumismo e cultura de massa tampouco. Assim, a busca da felicidade pelo indivíduo raramente deve alcançar resultados satisfatórios porque é necessário que a felicidade seja buscada pelo conjunto de indivíduos. A teoria da ação coletiva de Olson deve, pois, prevalecer.
Portanto, amigos, enquanto neste mundo a solidariedade for coadjuvante, todo o sentimento de excitação será passageiro e as lágrimas continuarão a rolar, pois os corpos suplicam por cuidados e nutrição, os corações clamam por amor, mas a consciência imediata tem nas mãos o sangue derramado e o pranto não contido.
Parafraseio, por fim e por suposta razão, as palavras do legado literário, traduzida na obra clássica de Victor Hugo, Os Miseráveis: "enquanto, por efeito de leis e costumes, houver proscrição social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros infernos, e desvirtuando, por humana fatalidade, um destino por natureza divino; enquanto os três problemas do século - a degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância - não forem resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis"