Tudo começou no dia 1º de setembro de 2014. Em meio à solidão de uma primeira noite em um apartamento novo e quase vazio, em uma mescla de empolgação e ansiedade condicionados às expectativas de uma nova casa, lá estava ela. Minha vizinha receptiva, que se aproximou de minha janela como se quisesse me dar as boas-vindas. Ao contrário do que muitos falam sobre corujas, animais de agouro, que causam medo e aversão, meu sentimento foi completamente oposto. Não senti temor algum, mas leveza e por mais absurdo que possa parecer, um sentimento de amizade começou a se estabelecer. Assim como ocorre com homem e cachorro, homem e gato, homem e pássaro, ocorreu entre a misteriosa ave de rapina espécie habitante de centros urbanos e eu. Todos os dias Gertrudes aparecia ao pé de minha janela, eu descia os três andares e em meio a árvores, estacionamentos e raros transeuntes, eu falava. E ela parecia escutar. Até que chegou o momento do acasalamento, Gertrudes constituiu sua família e eu tive que passar a visitá-la. Ora, ela, como boa mãe coruja que é, não poderia deixar seus filhotes desprotegidos na toca. Então, descobri seu hogar e diariamente faço minha cordial visita. Não temos um vínculo como normalmente têm os que possuem animais domésticos. Gertrudes é livre. Eu a chamo de "ma chouette", "mon hibou", "minha Gegê", mas apenas como forma de demonstrar carinho. E aqui uma homenagem como demonstração de meus sentimentos pela corujinha: uma tentativa inusitada de fazer Expressionismo. Com a licença de Van Gogh, Klee, Kandinsky, creio que posso nesse gênero me aventurar. Apesar do pouco tato artístico, o expressionismo é a saída para aqueles que querem na arte expressar seus sentimentos de forma a abstrair possíveis críticas, pois tudo ali no concreto representa o abstrato sentimento interior.
Gertrudes, à vous.
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